top of page

“Nunca tive medo do trabalho”

Severino Augusto chegou a São Paulo sem saber pra onde ir, passando frio e fome mas conseguiu vencer obstáculos e hoje preside o Sindicato dos Trabalhadores em Edifícios e Condomínios de São Vicente

Um fato que é certo na vida de Severino Augusto da Silva é que ele nunca ganhou nada de mão beijada, muito menos teve medo de desafios. Trabalho sempre foi sua filosofia tanto que o seu primeiro presente na vida foi uma enxada. “Desde quando eu me entendo por gente tive de trabalhar”, conta ele.

Nascido em 1958, dentro de uma casa humilde na área rural da pequena cidade de Pedras de Fogo, na Paraíba, Severino hoje é o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Edifícios e Condomínios de São Vicente (STECSV), mas para chegar onde e construir sua família, ele teve que batalhar muito. “Eu saí de casa ainda menino, com 17 anos. Vim pra São Paulo carregando uma malinha com algumas mudas de roupa”, relembra.

Filho de pequenos agricultores, Severino conta que trabalhar na roça não era seu sonho. A enxada, o primeiro presente que ganhou de seu pai ainda quando era garoto, não era o seu brinquedo preferido. Acreditava que poderia conseguir mais na vida. E quando estava no final da adolescência decidiu arriscar tudo e vir para São Paulo. Analfabeto, Severino sabia apenas “desenhar” o próprio nome, não tinha noção o que lhe esperava na Capital paulista e os grandes desafios de viver numa metrópole sem ter amigos ou familiares por perto.

E logo que descer do ônibus da Itapemirim, na Estação da Luz, veio o primeiro obstáculo. “Quando eu cheguei aqui fazia 3 graus. Nunca tinha visto um frio tão grande, muito menos tinha uma jaqueta na maleta. Eu pensei que ia morrer.” Só que Deus não deixa os seus e tratou de dar uma força para o jovem retirante que sonhava com dias melhores. “Eu fiquei parado por horas e acabei chamando a atenção de um guarda de trânsito. Ele chegou perto de mim e viu que eu estava morrendo de frio. Então ele tirou a sua blusa e me deu”.

O guarda pediu a Severino que esperasse ele acabar o serviço porque podia ajuda-lo. O paraibano não sabia, mas ali a sua vida começava a mudar completamente de rumo. O guarda de trânsito seria literalmente o seu anjo da guarda.

“No final do dia ele terminou o trabalho dele e me perguntou o que eu fazia em São Paulo. Eu disse que queria trabalhar. Ele então me levou para uma obra onde o cunhado dele era o mestre de obras, na esquina da Avenida Brigadeiro Luiz Antônio com a Rua dos Ingleses, em São Paulo. Eu desci do ônibus sem saber para onde ir, morrendo de frio, perdido, mas terminei o dia com um lugar para dormir, um cobertor e alimentação”. A partir daí, trabalhando em obras, Severino Augusto começou a construir a sua vida.

Por alguns anos ele rodou os estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e voltou a São Paulo sempre trabalhando na construção civil. Ate que um dia desceu a Serra do Mar para ir à praia e se encantou com a Baixada Santista. “Logo eu consegui um emprego numa obra em Guarujá”. Apesar de já se virar sozinho, Severino tinha de aprender a ler. E, praticamente autodidata, estudou um pouco no período noturno, mas aprendeu mesmo “juntando as letras” dos jornais que pegava para tentar decifrá-los. Virou um leitor assíduo “Até hoje eu estudo muito. Não sou advogado, mas leio toda a legislação, estudo as leis trabalhistas porque pra ser presidente de um sindicato, você deve conhecer o assunto”.

Ainda moço, aos 25 anos, Severino voltou para a Paraíba para rever os familiares. Ficou por lá alguns meses e retornou para a Baixada. Foi quando percebeu que a construção civil não era o que realmente queria. “Quando eu voltei, procurei serviço de vigilante e consegui, mas logo passei a ser zelador em um prédio na Rua Galeão Carvalhal, no Gonzaga em Santos”. Depois disso, ele nunca mais deixou o ramo, pelo contrário, começou a se engajar no tema e se associou ao sindicato da categoria aos 26 anos.

“Até aquele momento eu nunca tinha me interessado por política, mas quando comecei a frequentar o sindicato, as assembleias, fiquei encantado com aquilo, com a luta por melhores direitos para os trabalhadores e decidi participar das eleições das diretorias até que minha chapa foi eleita em 1996 e nunca mais deixei o sindicalismo”. Para ele, o mais gratificante é ver as conquistas dos trabalhadores e defender seus direitos. “Não tem preço quando a gente consegue uma vitória na luta pelos direitos da categoria. O sindicalista que realmente luta, tem uma vitória sofrida”.

Estabilizado, Severino se casou, comprou o seu apartamento, trouxe os pais e todos os irmãos para São Paulo, teve três filhos, sendo que uma é advogada e outro professor de História. O retirante paraibano, que chegou a São Paulo só, sem dinheiro, sem ter sequer uma blusa e um local para ficar conseguiu vencer e hoje se orgulha da sua história.




Notícias Recentes
bottom of page